Friday, July 24, 2015

Perdendo a fé na humanidade

Sempre quis conhecer a Rússia. Sempre. Ainda quero, mesmo com todos os problemas e mesmo depois de assistir a um documentário retratando a escrotidão dos naciolistas/neo-nazistas do país (e semana que vem é sobre a intolerância aoa homossexuais do país). A verdade é que a Rússia é apenas um dos países cheios de problemas do mundo. Quem é que consegue assistir Tropa de Elite e não ter medo ou ódio do Brasil? A verdade ainda maior é que o ser humano é um bicho horrível, que tem que se policiar e controlar pra não ser violento, preconceituoso, individualista, egocêntrico. Somos todos "ruins" por natureza, mas alguns se dão ao trabalho de tentar não ser. Por isso que nego inventou a ética e a moral - justamente por sermos amorais e anti-éticos por natureza.

Então. Ainda quero ir pra Rússia. Mas não a trabalho; ou pelo meu trabalho.

Gosto do meu trabalho e trabalho com pessoas bacanas. Algumas pessoas bacanas mas tão retrógradas, tão preconceituosas, tão escrotas... tem um povo velha guarda no departamento que dá vontade de jogar do 18o andar,
onde eu trabalho. Olha o exemplo:

- acham que eu não tenho direito de ser promovida ou ter cargo de chefia porque tenho filho e saio cedo. Mesmo eu chegando uma hora e meia mais cedo do que todo mundo, mesmo eu trabalhando à noite.

- minha chefe vai sair de licença maternidade e queria que eu ficasse no lugar dela; essas pessoas não querem, porque eu não posso ser promovida porque eu tenho filhos e família.

- a única pessoa que verbalizou isso (o resto só pensa) ainda se citou como exemplo, porque ela era "a mesma coisa, priorizava a família e deixou a carreira de lado". Minha família é da opinião contrária.

- criaram caso porque minha chefe queria que eu viajasse de executiva pra Dubai porque é um vôo acima de 6 horas e eu chegaria lá direto pra trabalhar. Isto porque a pessoa que vai comigo não pode ir de executiva porque chefe não liberou e como ela "é superior" a mim, deu o maior bafafá. Detalhe: não estamos indo no mesmo vôo, entao nao faz nem diferença.

- quando voltei de licença, me negaram trabalhar 4 vezes na semana porque "era prejudicial para o departamento", sendo que várias pessoas trabalhando 4 vezes na semana.

Tenho razão de ter birra com certas pessoas ou tô exagerando?!

Às vezes acho que a solução pro mundo é que ele se exploda e o ser humano entre em extinção. 



Tuesday, July 21, 2015

O verão e a vergonha na cara

Não tem mais como esconder: eu não tenho vergonha na cara. Nem força de vontade. Não tô feliz com meu corpo mas a preguiça de fazer algo a respeito é muito maior. Nem vou colocar desculpa no dia a dia atribulado, no fato de eu acordar às 6 da manhã pra ir trabalhar, chegar em casa às 18:30 e ficar com as pequenas até 21/22h. 5as feiras consegui que marido me liberasse das tarefas noturnas e faço pilates pra tentar diminuir as dores do corpo. E agora vou fazer um teste de acordar super cedo pra ir pra academia aos finais de semana. Qualquer coisa a mais, tem que ser às 5h ou depois das 22h. Aí entra a falta de vontade. (P.S.: não tenho hora de almoço, antes que pensem que poderia usá-la).

Eu tento, mas sempre desisto. Tinha perdido 12kg ano passado; já ganhei tudo. Voltei a usar o My Fitness Pal pra ver o quanto estou comendo - de 2,000 a 3,000 calorias diárias. Pelo menos assim, resolvi reduzir pra no máximo 1,800, mas isso tem uma semana e em três dias já fracassei.

Se a gente não está com o corpo e a mente num projeto, a coisa não anda. Já tentei criar uma rotina de cremes também; funcionou no início mas depois desandou. Nisso, a impressão que tenho é que envelheci cinco anos nos últimos seis meses.

Marido acha que tudo é uma fase, que, quando as meninas crescerem, as coisas ficam mais fáceis. Minha resposta foi que, quando elas crescerem e não derem trabalho, estarei morta. Aí é meio tarde, né?

Falta de força de vontade é traço de personalidade? É possível se forçar a fazer algo que não se está a fim e continuar a longo prazo? Trabalho porque preciso mas também gosto. Cuidar das meninas é trabalhoso pacas, mas eu gosto. Comer comida saudável e me entuchar de legumes, verduras e frutas não gosto, não. É quase tortura.  :(

P.S.: Pra não dizer que não mudei nada, passei a andar até a estação (13 min), além de andar da estação até a casa da cuidadora (15min). Ou seja, quase 30 minutos de caminhadas diárias.

Friday, July 10, 2015

Stop. Start. Continue.

Pare. Comece. Continue.

Tradução literal.

Essa é uma das lições que aprendemos numa master classe no trabalho e tentamos implementar no dia a dia. A teoria é super simples:

Pare de fazer coisas que não estejam funcionando ou que estejam atrapalhando. Pare de encher a agenda com reuniões (que muitas vezes são pra discutir o conteúdo da próxima reunião). Pare de se meter em fofocas do escritório. Pare de fazer hora extra todo santo dia.

Comece a fazer coisas que possam ajudar no dia a dia. Comece a planejar seu dia e siga o plano. Comece a se esconder em lugares mais tranquilos quando precisar terminar um trabalho importante. Comece a dizer não quando o não é necessário.

Continue fazendo as coisas que fazem o dia produtivo e prático. Continue fazendo seu trabalho com a dedicação de sempre (mas sem as horas extras). Continue expondo suas opiniões sempre você achar  necessário.

Além disso, a nova filosofia do departamento é Fewer, Bigger, Better. Ou seja, fazer menos coisas, mas coisas maiores e melhores (ou mais eficazes, dependendo da interpretação).

Na teoria, tudo funciona, né? Já na prática. Começa que pra mudar o hábito de anos e anos já não é tão simples assim. Depois, o ser humano tem o (mau) hábito de esperar por resultados radicais e imediados assim que uma mudança é posta em prática. Cortou o cabelo = cara nova, pinto a parede da sala = novo ambiente, mudou de casa = endereço novo. Simples assim. Só que não. Começou dieta = meses, às vezes anos, até chegar ao resultado desejado. Começou na yoga = meses até conseguir ficar de cabeça pra baixo.

Daí que tô pensando em aplicar a teoria do trabalho na vida pessoa também. Pare de ser tão pessimista e ver problema em tudo. Comece a trabalhar em dois (limitando pra ser realista) projetos que sepre quis. Continue separando trabalho de casa e dedicando seu tempo livre às filhas.

Vamos ver se rola algum resultado até o final do ano.

Saturday, July 04, 2015

Filho ou bicicleta?

Você, amiga que mora ou quer morar na Inglaterra, que está aí doida pra ter filho mas não sabe se é a hora certa, esse post é pra você.

Começando do começo: não tem hora certa. Se você tá cheia de desculpa (primeiro quero casar, ir pra Tailândia, aprender gaélico, ganhar medalha olímpica de cuspe à distância, juntar o primeiro milhão, depois o segundo...), sinto informá-la mas você não quer ter filho; só não quer admitir que não quer. Se você quer ter filho mas tem medo do incerto, bem-vinda ao clube.

Antes de engravidar, eu morria de medo do compromisso eterno, de não ser boa mãe, de danificar a criança, de matar de fome, do filho crescer e ser infeliz... tem que fechar os olhos e embarcar. E tentar fazer o seu melhor. Mas depois de ter dois, posso falar com propriedade: o medo tem fundamento.

Não, filho não morde (morde, mas não é fatal). Filho não quebra (a menos que você seja muito negligente). Filho não é um bicho do outro mundo.

Dá um trabalho do cão. Se você mora fora e não tem família perto ou muito amigos então... se você não tiver cara de pau de pedir ajuda e se depender do seu salário pra se bancar, ai ai ai.

Algumas dicas práticas para você se preparar:

- Licença maternidade aqui pode ser de até 12 meses e as férias se acumulam nesse período (ou seja, se você tem direito a 25 dias úteis, você pode parar mais 1 mês e pouquinho). Não são 12 meses remunerados

- Quanto você vai ganhar de licença vai depender do seu empregador, de quanto tempo está no trabalho, etc, mas nos meus dois empregos foi algo meio que assim (1a e 2a gravidez, respectivamente): 100% / 90% do salário nos 3 primeiros meses; depois 70% / 50% do salário nos outros 2-3 meses; depois o pagamento do governo (na época uma média de £500/mês) por mais 3 meses e nos últimos 3 meses (optei por tirar tudo nas duas vezes, mas sei que não é todo mundo que pode): zero dinheiros. MAS pela lei é assim: 90% do seu salário nas primeiras 6 semanas e £139.58 por semana nas próxima 33 semanas. ZERO nas últimas 13 semanas. Fonte: site do Governo.

- Desde abril 2015, a licença maternidade e paternidade podem ser divididas. Isso é para o caso da mãe ganhar mais do que o marido e ter que/quiser voltar mais cedo pro trabalho, mas ainda ter o pai cuidando da criança.

- A cada governo, os benefícios mudam. Por exemplo, quando tive Laura, ganhei £80 por mês do governo por um ano, algo assim. Quando Beatrice nasceu, a lei tinha mudado e por causa do nosso salário, perdemos o benefício. Esse benefício é um dos muitos que seguem a lógica estúpida do governo: se os dois pais trabalham e ganham £49,999 por ano, a criança tem o benefício. Se um dos pais não trabalha e o outro ganha £50,0001, já não tem direito. Sacou?

- Childcare voucher: vale super à pena em termos de dedução de imposto de renda (segundo o site do governo, economizo quase £3,000 por ano com os vouchers) e tive sorte porque peguei os vouchers antes da lei mudar. Compro o equivalente a £243/mês, mas hoje em dia só poderia pegar £150/mês mais ou menos. O que você pode pagar com childcare vouchers? Praticamente tudo ligado a cuidados com seu filho: algumas babás, childminders, creches, clubes de verão, breakfast club/after school clubs, etc. Não perde a validade.

- Existem outros benefícios que valem à pena checar.

- Família vem ajudar, mas também atrapalha. A gente tá sempre com alguém em casa , no mínimo por seis meses no ano. Fico louca!

- Preciso trabalhar, mais pra manter a sanidade mental. Só que não quero trabalhar com qualquer coisa e a minha área é meio tosca em termos de longas horas, muitos eventos, etc. Peitar pra não ser escravo e só trabalhar as horas certas é sinônimo de estagnação profissional (mesmo que vários artigos digam o contrário).

- Sabe quanto vou ter que pagar a partir de setembro pra childminder + atividades extra escolares + clube pré e pós aulas? £2,200 por mês. E em períodos punks no trabalho + eventos, ainda teria que ter um adicional pra alguém buscar Laura na escola, porque marido não consegue chegar a tempo. Junta isso, mais comida, passagem, roupa de trabalho (que eu nem compro muito), gasolina (não tem creche perto de casa) e eu tô pagando pra trabalhar.

- O governo dá 370 horas anuais (ou 15 horas semanas por 38 semanas) gratuitas de childcare (pode ser creche e em alguns casos childminder/babá) para crianças entre 3 e 4 anos (ou a partir dos 2 anos em alguns casos). O governo atual disse que iria aumentar a quantidade horas para 25h/semana, mas ainda não vi quando.

- A partir do outono tem um novo benefício vindo aí: tax-free credit. Pra cada 80 centavos que você colocar na conta, o governo dá 20 centavos, até £2,000 por ano, por criança. Dá pra pagar 1.5 de creche. Mas não é todo mundo que vai ter direito ao benefício não.

- A partir dos 4 anos, a criança pode ir pra escola, que é de graça. Se seu filho faz 4 anos até 31 de agosto, ele vai pra escola em setembro do mesmo ano. Se ele faz 4 anos a partir do dia 1o de setembro, ele só pode ir pra escola em setembro do ano seguinte, aos 5 anos. Planeje bem a data do nascimento, pode te economizar £900/mês por um ano se você paga creche tempo integral. hehehe Almoço é de graça nos três primeiros anos escolares. Depois disso é pago ou você manda de casa. Leite é de graça até a criança completar 5 anos; depois é tipo 40 centavos por dia.

- Se você trabalha tempo integral e tem filho em idade escolar, ainda tem que se virar com o antes e depois da escola. As escolas daqui são da 9h (8.55) às 15h (15.15-15.30), então bora procurar Breakfast club e After school club ou childminder, £6/£7 por hora. Ou seja, pelo menos £400/£500 por mês.

- Saúde: dentista é de graça pra crianças até 16 anos (e grávidas e mães de bebês até 1 ano). Medicação também, mas médicos não dão receita para Calpol e outras coisitas más. Quando Laura teve conjutivite, foi o farmacêutico mesmo que receitou o antibiótico e por isso acabei pagando preço integral. Claro que como diz o Tesco, every little helps, então quando você for na Boots, pergunte se eles tem o Minor Ailments Service.  Você pode pegar remédio de graça sem receita. Não são todas as Boots (que é uma rede de farmácia daqui, caso você não more aqui). Só vale pra quem tem direito a medicação gratuita (crianças até 16 anos e grávidas e mães de bebês até um ano de idade).

- Cartão de fidelidade. Tenho da Boots, o Nectarcard (várias lojas, inclusive Sainsbury's) e do Tesco e acabei de fazer um cartão de crédito do Tesco também, que é onde faço a maior parte das minhas compras de casa. Gente, parece bobagem, mas eu esqueci dos meus créditos no Tesco e descobri que tinha o equivalente a £150 lá, e como eles fazem o Boost sei lá o que, comprando coisas de crianças, inclusive brinquedos, o valor dobrou!! Fralda, baby wipes, uniforme escolar, festinhas de aniversário de 29 coleguinhas... vai somando.

Vou atualizando o post a medida que minhas filhas forem crescendo ou eu for lembrando de algo novo.

E aí, se animou? Quer outra dica de ouro? Se você tem uma irmã no Brasil, que tem maior jeitinho com criança e tá de saco da violência de lá, manda ela dar um pé na bunda daquele namorado encosto dela, pedir demissão daquele emprego que ela não gosta, vem de malas e cuias pra cá, faz ela treinar pra ser childminder, prepara sua casa e coloca ela pra cuidar dos seus filhos. De quebra, ela ainda pode cuidar de outras crianças e ganhar um dinheirinho (*). Ou compra uma bicicleta. ;-)

(*) Ok, não é tão simples assim. Só se ela tiver passaporte da União Européia e falar um pouco de inglês (pra fazer o curso), ok?

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Este post é complemento do Custo de Vida no Reino Unido pra quem tem filhos, com algumas repetições.

Friday, July 03, 2015

Irritation

Sou dessas que quando acontece algo ruim, fica remoendo e remoendo e remoendo. Sei que não é bom pra saúde e não faz diferença nenhuma pra minha vida. E ainda assim não consigo deixar de ficar irritada.

Hoje dei uma "cortada" num cara no trânsito. Não foi bem uma cortada, se ele não estiver acima da velocidade permitida, não teria sido nada demais. Ele nem precisou reduzir a velocidade. O que aconteceu foi que ele aumentou a velocidade, buzinou loucamente, me ultrapassou, e arrancou em pelo menos o dobro da velocidade permitida. Isso tudo pra depois parar no sinal. Fiz um gesto com a mão de "pra que isso??". O cara saiu do carro e veio falar aos berros comigo. Mal entendi o que ele falou porque é gringo e tem sotaque forte. Eu estava mais preocupada em tentar fechar meus vidros caso ele tentasse me bater ou machucar minhas filhas, então nem respondi direito. E mesmo assim, ele gritava tanto que nem ia ouvir mesmo.

Gente, o que eu fiz com ele acontece pelo menos 5 vezes no dia comigo, todos os dias. Sempre reduzo a velocidade e deixou pra lá. Ou xingo a pessoa baixinho. Não tinha o mínimo risco de acidente - exceto, claro, pelo fato de ele ter aumentado a velocidade quando viu que eu ia virar na frente dele. Enfim... sei que o incidente me deixou com TANTA raiva que tudo que eu pensava era "tomara que o carro dele exploda!" Às vezes me assusto com o tamanho da minha raiva em relação a situações assim. E queria ser muito como essas pessoas que simplesmente conseguem deixar pra lá e esquecer em cinco minutos o ocorrido. Aqui estou eu, quatro horas e meia depois do incidente, escrevendo sobre o assunto porque eu ainda estou morrendo de raiva e ainda desejando o que carro dessa pessoa se exploda.

Corta.

Na tentativa de esquecer, a pessoa faz o que? Vai pro Facebook. E se depara com a tal notícia de racismo contra a moça do tempo do Jornal Nacional. Não moro no Brasil há dez anos, não assisto JN, não sei quem é a moça, mas a notícia me esquentou o sangue. Primeiro achei que fosse mentira, é muita violência verbal gratuita. Depois me bateu uma angústia em ler os comentários de apoio "liga não", "você é mais", "somos todos maju", "ela é linda", etc etc. Tipo, ela é linda e somos todos Maju, mas liga não o escambau. Liga sim e bota todo mundo na cadeia. Racismo é crime. Nem todos os perfis são fakes. E a raiva volta e a irritação com o carinha mais cedo se mistura com o ódio que o print abaixo despertou e já estou eu achando que a solução pro mundo é que ele acabe mesmo.

Corta.

Respira fundo. Tenta aplicar as técnicas de relaxamento que você conhece (ops, nenhuma). Não vale à pena tanto ódio no coração, só faz mal a mim mesma e à minha família. E outra, né? Raiva que não traz resultado é burrice. É legal ficar revoltado e fazer alguma coisa para melhorar o mundo.

Corta.

Pra completar, estudos da universidade de Stanford (+ duas outras) anunciaram o óbvio: estamos matando o planeta e entramos em processo de extinção. E a verdade é, amiguinhos, que eu ando tão descrente da humanidade que tenho certeza de que o processo é irreversível porque ninguém vai fazer porra nenhuma para mudar.

Enquanto isso, raios e trovões lá fora. Mãe Natureza tá irritada também.