Friday, February 28, 2014

Não aprendi dizer adeus mas tenho que aceitar, lá-ra, la-ra, la-ra

Último dia de Brasil e essa música (do título do post) não sai da minha cabeça. Zezé di Camargo e Luciano? Não sei mesmo. O la-ra, la-ra é porque eu nem sei mais nada da letra além do que o que escrevi.

Mas traduz bem, porque eu não sei e não gosto de dizer adeus. E tudo o que eu tenho feito aqui ultimamente é dizer adeus. Nas próximas férias, a casa será outra. Esta, a que frequentei pelos últimos 30 anos, provavelmente será demolida. Estão vendo a importância das fotos e de uma boa memória? 30 anos de história vão para o chão em nome do progresso. No começo achava que não iria sentir nada, mas hoje bateu uma tristeza sem fim.

A tristeza não é só por causa da casa, não. É a vida, essa danadinha, que vive nos pregando peças, algumas bem sem graça. Como alguns de vocês já sabem, meu pai foi-se. Numa quarta-feira à tarde, bem quietinho, sem fazer estardalhaço, deitado na sua cadeira reclinável, na frente da TV que ele nem mais assistia.

Foi estranho. Senti saudades de algo que não existiu. Senti saudades da vida feliz em família que eu não tive, do pai presente e participativo que ele não foi, do orgulho da minha família que eu não tenho. Bateu um misto de remorso e azedume que não são legais (pra mim, pra minha saúde). E eu não sei como lidar com isso, porque externamente eu parece ser uma coisa, mas por dentro a hipocrisia me deixa enjoada. Tô tentando muito muito muito, mas muito mesmo, focar nas coisas positivas. Nas histórias que quero carregar comigo, mas está sendo tão difícil... Você está lá, trabalhando no pensamento positivo, inventando mil historinhas para sua filha de como o vô dela era maneiro, e aparece uma foto dele todo feliz ao lado de uma família que não é a sua, numa época que você teve que fazer muita terapia - AOS SETE ANOS DE IDADE - porque o seu pai sumiu de casa. Daí você se lembra de que estava sofrendo pra cacete, fazendo sua mãe sofrer pra cacete com suas crises, enquanto seu pai estava curtindo a vida adoidado com outra família. Que enquanto as fotos dele eram só sorrisos, você mal tinha fotos porque são sorria. Gente, alguém tem alguma dica de como controlar esse sentimento ruim? De como apagar as memórias doídas do passado e só guardar coisas boas? Porque meu pai não era um santo (longe disso), mas um monstro também não era. Eu achava que as feridas estavam curadas, mas abriu muita coisa, nessas últimos dias.

Bom, pelo menos tenho uma boa "desculpa" para ser esse ser humano descompensado que sou, essa mulher histérica, paranóica, neurótica, rabugenta, rancorosa que sou. A culpa é do mundo, não é minha.

Não, não concordo com o povo que se faz de vítima do mundo à toa. As relações com as pessoas e com a sociedade nos moldam, mas é possível escolher o caminho que queremos seguir. Muitas vezes precisamos de muita ajuda - amigos, parceiros, família, terapeuta, pai-de-santo - e não é fácil. Mas os pais precisam assumir um pouco mais a responsabilidade sobre seus filhos e parar com essa palhaçada de "se eu errei foi tentando acertar". Pronto. Falei. Depois eu me arrependo.

Desculpem usar esse espaço público como um divã.

Sim, sofri com a morte do meu pai - não sou o ser humano insensível que esse post possa parecer. Mas quero exteriorizar um sentimento que está guardado aqui dentro e que fica escondido aos olhos dos outros, porque "é feio".

Apesar de tudo, está muito difícil ir embora dessa vez. Pela primeira vez, penso com carinho sobre voltar ao Brasil de vez. Antes, a resposta era sempre não. Agora é: suspiro profundo. pontada no coração. "Ai... pois é... quem sabe na aposentadoria" e mudo de assunto para evitar as lágrimas.

Tuesday, February 18, 2014

Às vezes no silêncio da noite...

Fico remoendo meus pensamentos, querendo colocá-los no "papel" pra ver se libero espaço na minha mente.

Tô tentando fazer da minha vida virtual uma vitrine positiva, bonitinha, com as delícias das minhas meninas aprendendo sobre o Brasil, a família e curtindo sol e férias como nunca. Optei por exteriorizar o belo, mas por dentro as coisas não são bem assim.

Meu pai está super mal. Em junho ele operou o cancer do pulmão, um mês depois de ter operado o câncer na bexiga. Fez quimioterapia, depois radioterapia e o tratamento acabou em dezembro. Ficou fraco, teve pneumonia, etc. Cheguei aqui no início de fevereiro e fiquei chocada com o que vi. Um homem magérrimo, com a cabeça que era um crânio com pele e nada mais. Meu pai que sempre foi "fofinho" perdeu as bochechas e ficou de olhos fundos. O sorriso, sua marca registrada, sumiu. O vozeirão grosso, que um dia competiu nos hinos com o padre da paróquia onde fui batizada e fiz 1a comunhão, virou um sopro quase inaudível. Na 1a semana ele estava lúcido, conversava sobre tudo. Na 2a semana, ele perdeu parcialmente a consciência e parou de fazer sentido. Parece que sua alma ficou presa no corpo. Os olhos parecem entender o que falamos, mas a boca não responde ou quando responde, não sai tudo, troca as palavras. Suas mãos já não tem forças para segurar nem um simples guardanapo. Suas pernas passaram a ceder aos 55kg do seu corpo - que um dia pesou 90kg - e várias vezes ele caiu no chão. 

Meu tio, irmão de meu pai e médico que o acompanhou de perto, me disse no domingo que ele está no estágio terminal. Não tem volta e agora o que temos a fazer é proporcioná-lo uma morte confortável, em casa, onde tudo é familiar. Nunca pensei que fosse passar por uma coisa dessas: ver meu pai morrer lentamente. Ter que me contentar com isso. Ser negada de ter esperanças de que ele ficará bom e voltará a me contar causos. 

Parece que câncer de pulmão é um dos piores, mais agressivos e sorrateiros. Também um dos "mais fáceis" de prevenir, já que 85% dos casos é causado pelo fumo. 

O que estou sentindo agora? Impotência. Que meu pai vai morrer, eu já sabia, é a ordem natural das coisas. Mas não esperava que fosse assim, roubado de mim lentamente, como uma tortura. Minha madrinha me disse que ela acredita que as dores e alegrias pelas quais passaremos já estão escritas (dane-se o livre arbítrio, né?) e que o sofrimento pelo qual uma pessoa passa é quase uma punição pelos erros cometidos nessa ou em vidas passadas. Pessoalmente eu não acredito nisso. Por vários motivos, mas um deles se destaca: quem é que está sendo punido aqui? Meu pai ou sua família? A mulher dele está pagando pelos "pecados", tendo que levantá-lo do chão no meio da madrugada? Limpar seu vômito? Passar noites em claro em vigília? Dormir ao lado de um "morto vivo"? Claro que ela faz isso por amor, mas ela está sofrendo pra cacete e eu não acho justo. Também não acho justo essa coisa de cobrar dívida à prestação, fazendo a pessoa sofrer por coisas de um passado distante. Desculpe, mas me recuso a acreditar que Deus seja tão cruel e sádico com seus filhos que tanto ama. Mas enfim, cada um com suas crenças e suas dores.

No meio de todo o sofrimento do meu pai, minha mãe está prestes a começar mais um capítulo de sua história. Depois de muito anunciar, ameaçar, desejar, eis que parece que a casa onde ela mora há 31 anos será mesmo vendida. Era para ter sido, mas rolou um problema e a compradora desistiu. Depois minha mãe deixou pra lá, mas agora apareceu outro comprador. Ela achou um apartamento novinho - será a 1a moradora - e quando voltar de Londres fará sua mudança. E daí, claro, rola a sessão nostalgia. Adeus casa com piscina, entulhada de badulaques e história, perto da praia, com uma brisa agradável. Olá apartamento 1/3 do tamanho da casa, no bairro da colina, longe da praia. A missão pra mim agora é identificar todas as coisas que quero manter na minha vida e dar um jeito de trazê-las pra Londres antes que minha mãe dê fim em tudo.

E nesse processo, me sobra muito tempo para pensar na vida e repensar certas atitutes e escolhas da vida. Estas férias vão ficar marcadas em todos nós, mas a vida é isso, não é? Cicatrizes feias, tatuagens bonitas, doces lembraças, tristes pesadelos. Felizmente o tempo é um grande aliado e se ele não ajuda a apagar certas coisas, nos ajuda a amadurecer e a lidar com os percalços do caminho de uma maneira positiva.

E vamos colocar o sorriso na cara que tenho duas molequinhas ávidas a curtir a vida.


Saturday, February 08, 2014

A culpa é do calor!

E dos mosquitos. Não da pra ficar no computador quando tem um milhão de mosquitos comendo minhas pernas debaixo da mesa?

Mas alem do fato de estar um calor do cao aqui (mentira, peguei calor na Bahia, no Rio e agora em Macae, mas esta longe de ser o 'pior de todos os tempos' como andei lendo no Facebook; nosso timing foi perfeito!), não tenho muitas novidades.

Tenho sim, muitas coisas passando pela minha cabeça. Tipo: como é que eu consigo viver em Londres longe da família e de ajuda?! Repito o mantra todos os dias: você não esta só, muitas mães moram em outras cidades, estados ou países e tem mais de dois filhos e dão conta. Cansei de ver gente sendo crucificada porque tem babá, até nos finais de semana e talz. Claro, tem gente que abusa, né? Uniforme pra ir à praia? Levar a babá para todas as férias, inclusive passeios em família de final de semana? Mas olha, cada um com seu cada um.

Acho que eu não teria babá 24 horas ou que dormisse em casa, não, mas agora que eu senti o gostinho de ter uma ajuda e poder ficar sem as crianças por perto por 1 horinha, nossa, eu curti muito essa vida "de brasileiro". Antes que me taquem pedra, sei bem que muita gente no Brasil não tem condições de pagar babá ou ter empregada. Mas gente, até mesmo ter avós com saúde por perto, que possam - e queiram - cuidar dos netinhos... Fiz até vista grossa para muita coisa - principalmente ligadas à rotina de dormir e à alimentação, que tentei fazer a linha natureba, mas não rolou direito não.

Só que tenho um problema muito sério: sinto culpa e vergonha de usar a ajuda que tenho aqui. Juro que tenho pavor de acharem que estou abusando, então deixo no máximo uma horinha mesmo e já aviso pra me chamar se as crianças tiverem dando trabalho. Sempre que ouço muito choro, lá vou eu ajudar, ver o que é. E dou liberdade para brigarem com as meninas se tiverem que brigar ou eu mesma brigo. Ninguém aqui acorda no meio da noite com choro de Bea, porque eu não deixo. Minha mãe foi uma anja numa noite, depois de muitas noites mal dormidas, ficando ao pé da minha cama vigiando Bea até ela pegar no sono pesado. Ela disse que vira e mexe eu pulava da cama para ver se estava tudo bem, e que eu simplesmente não relaxava. Não relaxo mesmo e acho que por isso estou sempre tão cansada. Mas não somos todas assim? Mães-malucas, todas são. ;-)

Outra coisa que me passa pela cabeça é: será que eu voltaria a morar aqui? Penso nisso todos os dias, de verdade. Mas deixa isso para um próximo post, né?