Monday, November 18, 2013

No divã do analista

O título não é original (tirinhas de jornal?) e muito menos reflete a realidade, porque não estou fazendo terapia. Não que eu não precise, pelo contrário, mas não estou fazendo.

O que não me impede de estar sempre me auto-analisando, como tem acontecido nos últimos dias. Tenho pensado muito nas minhas atitudes para com o mundo e em como mudar. Mudança pra mim é uma coisa difícil pra caramba, mas deixa isso para um outro post.

A questão é que eu sempre soube que era hipócrita. Quase a encarnação da hipocrisia. Mas vivo em negação. Ser hipócrita não é legal, mas acho que não estou num estágio que possa fazer (muito) mal a terceiros. Hmmm... será?

Eis alguns exemplos:

1) Estou de dieta. Controle alimentar. Porque ser saudável é legal. Mas nada radical porque, afinal, estou amamentando e não quero comprometer o leitinho das crianças, certo? Meio certo. Isso aí é uma desculpa legal para complementar a real razão da dieta: não gosto do meu corpo como ele está, não quero perder todas as minhas roupas (*), toda vez que olho fotos minhas tenho vontade de chorar. Olhando no espelho não parece tão ruim, mas assim que vejo as fotos... nossa. E a dieta não radical é porque eu não aguento cortar tudo de uma vez. Eu preciso de uma desculpa para comer um tiquinho a mais do que eu comeria normalmente. Ou seja, vou amamentar até a menina completar 18 anos, pra poder comer 300 calorias a mais diariamente.

2) Não gosto de chamem minha atenção (mesmo com motivo) de maneira ríspida. Fico irritada e magoada. Mas é o que SEMPRE faço com marido e com a filha mais velha. Ontem, pensando em como falei com ela na loja, senti um aperto absurdo no coração por te-la tratado exatamente como não gostaria de ser tratada. Não importa se ela estava se comportando mal, não importa se eu estou exausta, não tratamos pessoas como não queremos ser tratados. Mas e aí? Vai mudar alguma coisa daqui pra frente? Acho que não, é quase no automático e eu só me toco depois que já fiz.

3) Defendo a amamentação. Por que é melhor pro bebê. Olha, até é, mas também porque é prático e eu não curto ficar esterelizando mamadeira. E não quero dar desculpa para sogra querer passar o dia com minha filha. hahaha Minha desculpa é sempre a mesma: ela mama. Vou ter que inventar outra quando acabar (se bem que já falei pra marido que não vou deixá-las viajar sem mim por muitos e muitos anos, ele que se vire pra se explicar para os pais).

4) Defendo o tal "attachment-parenting"? Olha, até poucas semanas atrás eu nem sabia que isso existia. O fato da minha filha (bom, às vezes filhas) dormir na nossa cama é por pura preguiça minha. Era super cansativo ficar levantando para pegá-la no moisés. Daí ela parou de caber no moisés e passou a rolar, ficamos com medo, mas ao invés de dar um berço pra ela, ela ficou na nossa cama. Assim, só preciso colocar o peito pra fora e voilá, bebê faminto não está mais com fome. Também é uma forma de fazer marido acordar à noite também.

5) Só que o bebê não está mais se contentando só com leite. Bebê tá sofrendo de insônia e tá acordando a casa toda. O que faz a pessoa aqui? Decide que está na hora de mandar o attachment-parenting pros quintos, comprar uma cama para a mais velha, passar o berço pra mais nova e despachar todo mundo pro quarto ao lado. E tem mais: a cama da Laura se transforma numa cama mais alta, com um espaço bacana embaixo que pode ser usado como canto de brincar ou leitura. Ou podemos colocar um colchão pra Beatrice dormir quando tiver lá seus 2 anos. Marido achou estranho: mas colchão no chão? Não... E o que eu fiz? Virei montessoriana desde criancinha. Li que a linha montessori é adepta a deixar a criança livre, sem grades e com a maior facilidade de ir e vir da cama (dorme quando quer, brinca quando quer). E convenci marido que isso é lindo. Se eu acredito de verdade nisso? Não: criança dorme quando os pais querem. Ou se não quiser dormir, que fique no quarto e me deixe ter o meu "me time". Minhas filhas desconhecem essa expressão e me querem o tempo inteiro. Então, não, não sou a favor de deixá-las sair da cama quando quiserem. Mas a verdade é que não vai ser uma cama mais alta que vai impedi-las de pular na minha cama. Então vamos facilitar a vida, eliminar uma cama do quarto pra ganhar espaço e um dia, quando elas forem mais velhas, cama uma ganha sua cama de "adulta" e todos ficam felizes.

6) (*) eu não gosto de gastar dinheiro, não sei exatamente porque. Acho que deve ser criação, minha mãe sempre foi muito paranóica e acabou passando isso pra mim. Não acho legal, não gosto, mas ainda não descobri como me livrar do problema (sem ter que gastar rios de dinheiro com terapia, hahaha). As únicas coisas que me dão prazer em gastar dinheiro são: comida, viagem e artigos fofos (mas normalmente inúteis, por isso raramente compro) de papelaria e arts & crafts. Então o fato de eu ter perdido meu guarda roupa inteiro, pelo menos duas vezes, desde que me mudei pra cá me deixa maluca. Não gosto de comprar roupa. Por mim o mundo andaria pelado pra não ter que me preocupar com isso. Uso a desculpa do "desperdício, tanta gente sem, pra que gastar com desnecessário, perder peso faz mais sentido".

Pronto, taí, vários podres num post só. Tem mais, eu garanto, mas vai, pra que me auto-apedrejar assim, né? Exceto o item 2, não acho que minhas maluquices afetam a vida da família tanto assim. Não vou mentir que às vezes perco o sono com minha hipocrisia - me dá vontade de me dar na cara. Mas depois passa.

O próximo passo será identificar o que me incomoda muito e quero mudar. E mudar. Ou tentar. Tentar muito. Pra mudar. Certo?

Thursday, November 07, 2013

Em cima do muro

Confesso que para a grande maioria dos assuntos, sou uma pessoa "em cima do muro". Quer dizer, às vezes até tenho opinião formada a respeito de um assunto, mas entendo o outro lado e não tomo o meu lado como o certo. Nem tento convencer às pessoas de que a minha opinião é a certa. Em alguns casos, prefiro até ficar quieta.

Para alguns assuntos em particular, não, sou bem radical. Apesar de ser radicalmente contra opinião radical sobre qualquer coisa, alguns assuntos pra mim não tem meio termo. Legalização do uso de armas é um deles. Não me importa as opiniões a favor da legalização das armas, sou contra e ponto final. E nesse caso não vou nem quero mudar de opinião.

Prostituição infantil. Trabalho infantil. Abuso de crianças. Qualquer coisa ruim envolvendo crianças, que não sabem se defender, pra mim é errado. Veja bem, dar uma palmada no bumbum é diferente de violência contra criança, ok? E quando falo criança, estou falando dessas, de até, sei lá, 8, 9 anos de idade. 15 anos pra mim é outra coisa.

Daí que está circulando no Facebook uma imagem com quatro mães e suas crias, com as legendas "Eu compartilho a cama", "Ele é circuncisado", "Eu trabalho fora", "Eu amamento no peito exclusivamente", seguido de um "e eu sou uma boa mãe. Nós fazemos coisas diferente, mas amamos nossos bebês igualmente. Celebre isso".

E eu achava que esse papo de mais ou menos mãe era coisa do passado. Todo mundo já publicou algo a respeito em seus blogs, já deu sua opinião, etc. Até que o assunto volta à tona e 50 mães postam a tal imagem no Facebook.

Faço parte de um grupo de amamentação virtual (aliás, a palavra amamentação me confunde - amamentar vale só pra peito ou pra quem dá fórmula também? não que faça alguma diferença, é curiosidade mesmo) e o grupo existe para ajudar as mães que querem amamentar. Veja bem: você tem que pedir para entrar no grupo. Se você quer entrar no grupo é porque você leu e respeita as regras do grupo. E o grupo é a favor do aleitamento materno e contra o uso de leite artificial. É contra o uso de mamadeiras e chupetas. É a favor da cama compartilhada. E a favor de muitas outras coisas. Então me diz: porque você, como membro do grupo, se irritaria com as administradoras do grupo quando elas criticam pediatras que receitam leite artificial logo de cara, pra tudo e todos? Pombas, se você não acha que críticas assim sejam legais, procura um grupo de apoio às mães que dão leite artificial. E não estou sendo irônica, não. Criticar algo dentro de um grupo anti aquele algo é diferente de apontar o dedo na cara de uma mãe na fila do mercado ao ver que ela está comprando leite artificial. A crítica no grupo raramente é voltada às mães, e sim ao profissional que deveria guia-las mas não o faz. E é uma crítica construtiva, tipo para incentivar, e não desmoralizar.

Mas a maternidade faz coisas com a cabeça da pobre mãe. Uma crítica inocente soa uma acusação violenta aos nossos ouvidos. Eu mesmo já passei por isso. Faz mais de dois meses que estamos numa fase bem "ruim" aqui em casa, com minha caçula se recusando a dormir bem e levando a casa inteira, incluindo a irmã mais velha, à loucura. Daí andei lendo vários posts desse grupo e a todas as respostas são: "é assim mesmo", "é uma fase, vai passar", "demora, pode levar 3 meses", "tenta descansar, siga uma rotina, faça tudo que seu bebe quiser, seja escrava dele, bem feito, quem mandou ter filho". Meio que não era a resposta que eu queria ouvir. Eu queria algo do tipo: deixa chorar, volta pra casa da sua mãe, manda seu marido amamentar senão você vai ficar louca...". Na minha cabeça, eu me senti culpada por pensar na remota possibilidade de fazer algo fora dos padrões "naturais" (dar formula, deixar chorar um pouquinho, treinar a dormir...") porque o grupo é contra essas práticas. E eu sempre lia e ouvia histórias de mães que fizeram e obtiveram sucesso com formulas e choro controlado. A questão é que não dormir deixa a pessoa maluca e eu estou ficando maluca, desesperada mesmo. Daí li esse texto aqui, simples, óbvio, mas que me ajudou a ver que é fase mesmo e pouco importa o que eu faça, não vou ter garantia de sucesso.

Conheço muitas mães adeptas ao choro controlado que conseguiram fazer com que seus filhos dormissem a noite inteira. Mas um outro bando de gente me disse que isso pode causar efeitos colaterais nos bebês e que pesquisas comprovaram que não é uma tática muito saudável. Olha, não sou santa. Eu tentei com minha mais velha. Tentei mesmo. Mas falhei, porque ela não parava de chorar. E soluçava. E ficava super mal. E eu ficava super mal. E chorava. Tentei por um mês, o que foi até muito. E desisti e não tentei nem vou tentar com a mais nova. Eu sou super em cima do muro em relação a isso, porque se por um lado sou contra qualquer forma de tortura com bebes e isso me parece um pouco de tortura, por outro acho que uma mãe exausta pode causar muito mais danos ao bebe do que essa tática. Vocês não tem idéia das minhas crises por falta de uma boa noite de sono. São mais de dois meses assim, já tive tremedeira, apaguei no transito (com as meninas no carro), tonteiras, senti muita raiva, pensei em largar tudo pra trás e sumir. Vai me dizer que criança abandonada pela mãe sofre menos do que uma criança que não foi atendida de imediato (alguns casos de choro controlado, a mãe fica no quarto com o bebe, pega no colo pra acalma-lo, mas coloca no berço para que ele aprenda a dormir sozinho)? Daí vem a pessoa e diz: você tem que procurar ajuda. E a ajuda diz: você tem que dormir. Oi? A vontade é de mandar à merda, né? Eu sei, cacete,  que eu tenho que dormir, mas se eu não dormi até agora é porque eu não tenho com quem deixar as crianças porque a droga do estudo diz que elas precisam é da mãe, e tem que tomar leite do peito, mas não pode ser na mamadeira por causa da confusão dos bicos, e chupeta deus me livre, e que é importante dar muito colo, muito amor, muito peito e todas as suas horas de sono nos próximos 15 anos!!

Enfim... repararam que eu to revoltada? É o cansaço, tá?

Leite artificial é outro tema polêmico e que me deixa em cima do muro. Alguém tem dúvida de que leite materno é o melhor alimento para o seu bebê? Não. Mas existe muita falta de informação por aí. Leite fraco, pouco leite. Eu mesma já fui vitima da armadilha do "pouco leite", porque a caçulinha (não lembro de ter acontecido com a Laura) vive no peito e eu achava que ela estava sugando mas não encontrando o que queria. Até ler que o peito é na verdade a vida do bebe: é alimento, é carinho, é aconchego, é calor, é playground. Parece óbvio, e é, mas é também cansativo e machuca o bico (e o povo insiste que é "pega errada", quando na verdade o bico não tá acostumado a 18 horas se chupação, nem peito de atriz pornô), então é mais fácil tascar a chupeta logo e mamadeira e pronto. Tem uma mulher no curso de massagem que disse que depois que ela viu que leite artificial deixava o filho dela cheio e ele dormia a noite inteira, ela nem cogitou a possibilidade de amamentar o 2o filho, ele foi direto pra fórmula, na mamadeira. Na boa, apesar de "chocar" os puristas, você olha para o moleque e vê um bebe grande, saudável e super ultra mega risonho. Ele vai virar um carente? um machista batedor-em-esposas? um psicopata que atira em inocentes num shopping lotado? vai virar viciado em crack? Sei lá, a ciência é tão avançada assim para prever essas coisas? Mas uma coisa te digo: ela me parece uma mãe muito mais descansada do que eu; pelo menos ela está dormindo à noite.

Também não sou santa no assunto fórmula. Tentei, várias vezes, dar fórmula para a Laura. Depois dos 6 meses, claro, período que ela foi 100% amamentada com meu leite. Ela não aceitou nem a pau. Nenhuma das marcas. Daí fui experimentar o treco. O cheiro parecia meio... de vômito. O gosto era de farinha de trigo com água. Já provaram leite materno? O treco é doce, e em nada se parece com a fórmula. Não me surpreende que ela não tivesse gostado. Com a Bea nem vou tentar - foi dinheiro jogado fora, foi um saco ficar limpando mamadeira, frustrante vê-la cuspindo e rejeitando o negócio. E se eu tenho leite, pra que, né?

Se eu encontro uma mãe meio perdida e mal orientada, eu defendo o aleitamento materno com todas as minhas forças. Fico triste quando sei de mães conhecidas que deram fórmula porque o bebe não estava "crescendo" muito - leia-se, ficando obeso - e o médico mandou dar, sem nem dar uma segunda chance. Fico triste quando sei de mães que querem muito amamentar, mas não tiveram orientação para faze-lo. Mas não discuto com mães que sabem muito bem o que estão fazendo quando dão formula para seus filhos. Até onde sei, formula não mata nem causa desvio de caráter. É meio como cesárea, sabe? Torço o nariz para as mulheres que querem fazer cesárea para escolher o signo do bebe, porque querem estar lindas no parto, e outras coisas do tipo, mas não para quem tem pavor de dor, quem sofreu traumas passados.

Acho que o que mais me incomoda nesse mundo da patrulha (e não só falando de filhos aqui) é que tem muita crítica e pouca solução. Muita gente apontando dedo, dizendo o meu jeito é melhor do que o seu, mas pouca gente disposta a ouvir o outro lado e a conviver com o diferente, a ver o lado positivo das coisas. A vida começa com a gestação, o parto e o aleitamento? Se fosse só isso, filhos adotivos seriam fadados ao fracasso, né?

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Desculpe se o post foi vomitado aqui, mas eu realmente estou cansada (sério, 3 horas de sono por noite nos últimos dois meses) e se eu pensar muito pra escrever, eu não escrevo. Já deletei muito post por conta disso. Depois eu me arrependo de postar, mas aí já elvis.

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