Então... o Reino Unido votou para sair da União Européia. Voto apertado, 52% contra 48%, o OUT ganhou na Inglaterra e no País de Gales, mas perdeu na Irlanda do Norte e na Escócia. Embora falem que na Escócia uma massa esmagadora votou pra ficar na UE, foram 62% da população. Isso é maioria, mas não é massa esmagadora; quase 40% é gente pra cacete querendo sair. Aqui no meu Borough foram 50.4% In e 49.6% Out, uma diferença quase irrelevante.
Grande parte dos meus amigos e conhecidos brasileiros estão bem chateados, porque pra eles isso é uma mensagem pessoal de que eles não são bem-vindos aqui. Nem todo mundo que votou Out foi por causa da imigração, mas a campanha em torno do Out foi em grande parte baseada no "problema da imigração". Um outro amigo britânico fez uma analogia entre In (sorvete de creme, sem graça, mas que serve o propósito de adoçar, matar a vontade de sorvete e oferece possibilidades de cobertura, receitas, etc) e Out (uma caixa com uma surpresa dentro, que pode ser sorvete de creme, de chocolate, ou um pedaço de carvão).
Aqui vai minha opinião pessoal, de como estou vendo isso tudo de um ponto de vista meu, apenas meu, ignorante de conhecimentos econômicos, políticos, psicológicos.
Votei In. Meu marido votou In. Vim pra cá com visto de estudante, através de uma bolsa dada pelo governo inglês para países - até onde sei - que não fazem parte da União Européia. Através do meu visto de 18 meses de estudante, tive acesso ao NHS completamente de graça. Para morar aqui, no entanto, tive que tirar minha cidadania portuguesa (meus avós maternos eram portugueses). Hoje eu tenho a cidadania britânica. Meu marido veio pra cá com visto de trabalho e tirou a cidadania britânica antes da Romênia entrar na UE. Meus vários motivos para estar In incluem gostar da liberdade de ir e vir, da opção de me mudar pra Portugal, Itália, Alemanha, Grécia, etc. Vejam bem, alguns desses países não estão bem das pernas, mas pra quem tem um business online (ainda não é o meu caso, mas estávamos trabalhando nisso) isso não importa muito; a possibilidade das minhas filhas estudarem em outros países, conhecerem outras culturas, etc, sem ter que passar pela trabalheira de vistos e afins; achar que a UE não funciona direito, mas que é melhor consertar um brinquedo bom que quebrou do que jogar fora e comprar outro - que sabe-se lá quanto tempo vai funcionar até quebrar de novo. No meu antigo emprego, estar a UE era importantíssimo para o negócio e não impedia que negociássemos com outros países. E finalmente, acho que no atual momento do mundo, a gente tem mais é que se unir e colaborar, ao invés de dividir e segregar.
Não vou negar que estar fora da União Européia me causou um certo choque e medo do futuro. Ainda não sabemos a extensão desta decisão e ainda deve levar 2 anos até que tudo seja definido. Em dois anos muita coisa pode mudar (do jeito que vai, podem até cancelar essa coisa toda e mandar a democracia pra casa do cacete e continuar de onde paramos). Do nosso (aqui de casa, total meu umbigo) ponto de vista, ainda não sei o que muda a médio e longo prazo, mas pra ser sincera, acho que não vai ser nada tão preocupante como para muitas outras pessoas.
Estou ofendida e me sentindo rejeitada com essa votação? Sinceramente? Não. Explico. Ao contrário de muitas pessoas, eu nunca me senti 100% bem-vinda. Quando vim pra cá, estava em contato com um grupo do Orkut que supostamente integrava justamente estrangeiros, justamente por ser difícil conhecer gente e fazer amigos. O grupo era liderado por um escocês e meu marido também fazia parte. O grupo era ótimo, mas não vou negar, muitos estavam nele pra achar um/a parceiro/a. E inclusive ouvi que as brasileiras eram as mais fáceis.
Meu primeiro emprego permanente aqui na Inglaterra foi numa empresa americana, dirigida por britânicos, com grande parte da programação dirigida ao povo daqui, etc. Eles gostavam de dizer pelos corredores que a cultura era britânica e que era pra crianças britânicas. Em várias situações, alguns colegas de trabalho faziam questão de dizer que não estavam interessados em conhecer gente nova, que os amigos deles eram os de faculdade e pra que perder tempo conhecendo gente nova? Em uma festa anual da empresa, ao anunciar as pessoas que saíram da empresa naquele ano, o presidente chegou numa brasileira que trocou a nossa empresa pela concorrente, ele mandou um "ah, só podia ser brasileira; brasileiro não gosta de trabalhar, são todos preguiçosos". O cara é inglês, nunca morou no Brasil e a empresa não tem histórico de contratar brasileiros. O RH tirou o microfone do cara e ficou por isso mesmo - nem um pedido de desculpas, nada.
Meu último emprego foi numa empresa britânica, no meu departamento éramos 15 pessoas, 3 estrangeiros: eu do EU, uma do Caribe morando aqui há 30 anos e a estagiária irlandesa. Quando eu saí, fui substituída por outra britânica. O departamento ao qual o meu fazia parte era um departamento international, então a quantidade de estrangeiros era bem maior, aliás, estrangeiros são bem-vindos, 2a, 3a, 4a línguas são necessárias. Mas a quantidade de estrangeiros em cargo de chefia era bem pequena. Coincidência? Xenofobismo? Eu saí porque depois de quatro anos lá não consegui ser promovida, inclusive foi "sugestão" do RH ("quando a gente tenta e não consegue, melhor tentar ir para outro lugar mesmo. Muita gente volta em posição acima, porque só assim pra verem que a pessoa faz falta"). Pessoalmente acho que foi um tiquinho de tudo, adicionado a uma bela dose de incompetência e falta de visão da chefia. Não porque foi comigo não, mas por acontecer em toda a empresa, de deixarem bons funcionários irem e promoverem as pessoas erradas. Não acho que aconteça em todas as empresas, em todos os setores, com todo mundo, foi apenas o que eu vi na minha empresa.
Moro aqui há pouco mais de 10 anos, trabalhei numas 6-7 empresas diferentes, principalmente como temporária, e a minha impressão maior é que Londres é "inclusiva" porque as pessoas estão cagando pra você. Não que elas curtam essa diversidade, essa explosão cultural... não, elas estão ocupadas demais com a própria vida, com os próprios problemas, com que horas o pub fecha, para dar a mínima pra quem vem e quem vai. Ok, isso é bem generalizado. Fiz grandes amigos britânicos, pessoas queridas e interessadas em pessoas, não em pub-buddies, ou relações superficiais no trabalho. Mas como uma people-watcher profissional que me tornei, percebi sim que as pessoas não querem contato. E ainda arrisco que isso é no geral, não só em relação a estrangeiros não.
Quando vim pra cá, viajamos bastante pela Inglaterra e sempre encontrei pessoas muito mais receptivas do que em Londres. Claro, eu era "turista", estava a passeio, não estava morando lá. Então talvez por isso, eles me viam como um alien, alguém pra perguntar coisas, descobrir novas culturas, e depois dar tchau. Então, como disse, essa é a MINHA experiência, de nunca ter sido 100% incluída, de nunca ter visto a Inglaterra como esse lugar multicultural onde todo mundo é aceito. Ao contrário: pra mim, você só é aceito, porque as pessoas não dão a mínima, desde que você não atrapalhe o caminho deles. (Com excessões, claro)
Então nesse sentido do "racismo", o resultado do referendo não me chocou. Todo mundo diz que Londres voltou In, mas de novo, 40% da população votou Out. 40% pessoas. Quarenta.
Muita gente diz que não foi a questão da imigração que fez optarem pelo Out. Muita gente me disse que é legal mudar - se não está bom do jeito que está, tem que mudar, mesmo que a mudança seja o desconhecido. Acho válida a explicação, mas claro que quando é uma mudança que segrega, que separa, que exclui... tem gente que diz que na verdade nada muda no campo da imigração: só teremos imigrantes mais diversos, ou seja, né? Mas só o tempo dirá.
Meu grande medo em relação a tudo isso é quem entra no poder daqui pra frente. Será que é o prenúncio de UKIP no poder? Ou de políticos com mente parecida? É um aviso que Donald Trump vem aí pra completar o coreto? Será que agora vai rolar um monte de maluquinho matando estrangeiros por aí. Meu grande medo é olho-por-olho... muita gente já diz que se a Inglaterra sair, a Europa não vai querer que ela seja bem sucedida, para começar o "eu te disse". Esse sentimento de "você me rejeitou, agora se ferra aí sozinho" não me agrada, porque só gera mais raiva, mais rancor, mais segregações. Esse papo de vamos separar a Escócia, a Irlanda do Norte, Londres... a mesma coisa. Acho que agora é hora de parar pra pensar no que deu errado e tentar consertar.
O que deu errado? Nós vivemos numa bolha e esquecemos de olhar para os lados. Olha a gente fazendo exatamente o que acabei de falar que o ingleses fazem: olham, mas não vêem, não se importam. Como pudemos ignorar 50% da população que não quer essa situação? Como pudemos ignorar os sinais de que a coisa não estava bem? E agora estamos culpando as pessoas "ignorantes e sem instrução", os "working class". Essas pessoas, aos nossos olhos, nem existiam. Para nós, eles estavam tão felizes quanto a gente. Ok, nós = eu, porque eu realmente não sabia que a coisa estava nesse nível. Agora pipocam matérias sobre as pessoas que se arrependeram de ter votado Out, que era uma forma de protesto, que eles acharam que o voto deles não contaria. Olha isso, as pessoas estão com síndrome do filho rejeitado - não conseguem atenção dos pais, então fazem "merda" para ver se assim vai.
Vale um parágrafo pra dizer que sim, o povo não estava preparado para uma decisão dessas. Muita gente votando sem nem saber o porque, ou por causa de falsas promessas (£350 milhões por semana voltando pros nossos bolsos, sendo que esse número nem existe), muita gente nem votando - quase 30% da população. O governo fez uma bela cagada ao deixar essa decisão na mão do povo britânico. Era obrigação deles, e eles escolheram jogar o peso da decisão na mão do povo (um povo que claramente o governo não conhece).
Sim, tenho medo pelo futuro das minhas filhas, vai vou falar que eu já tinha medo antes. Medo da violência extremista, medo da violência contra mulheres, medo de crises financeiras que já passaram por aqui, medo delas serem infelizes, medo delas terem mente pequena e serem cheias de preconceitos, medo delas sofrerem bullying, medo delas se tornarem bullies. Mas não estou apavorada. Ainda não, não até saber a extensão do problema, não porque ainda tenho vontade de fazer funcionar, ainda tenho forças para brigar. A gente tem que aprender com os erros e não ficarmos acuados e viver numa bolha. Aliás, está na hora de estourar essa bolha e tentar entender o mundo ao redor. E não deixar o medo tomar conta, porque é isso que eles querem!
Grande parte dos meus amigos e conhecidos brasileiros estão bem chateados, porque pra eles isso é uma mensagem pessoal de que eles não são bem-vindos aqui. Nem todo mundo que votou Out foi por causa da imigração, mas a campanha em torno do Out foi em grande parte baseada no "problema da imigração". Um outro amigo britânico fez uma analogia entre In (sorvete de creme, sem graça, mas que serve o propósito de adoçar, matar a vontade de sorvete e oferece possibilidades de cobertura, receitas, etc) e Out (uma caixa com uma surpresa dentro, que pode ser sorvete de creme, de chocolate, ou um pedaço de carvão).
Aqui vai minha opinião pessoal, de como estou vendo isso tudo de um ponto de vista meu, apenas meu, ignorante de conhecimentos econômicos, políticos, psicológicos.
Votei In. Meu marido votou In. Vim pra cá com visto de estudante, através de uma bolsa dada pelo governo inglês para países - até onde sei - que não fazem parte da União Européia. Através do meu visto de 18 meses de estudante, tive acesso ao NHS completamente de graça. Para morar aqui, no entanto, tive que tirar minha cidadania portuguesa (meus avós maternos eram portugueses). Hoje eu tenho a cidadania britânica. Meu marido veio pra cá com visto de trabalho e tirou a cidadania britânica antes da Romênia entrar na UE. Meus vários motivos para estar In incluem gostar da liberdade de ir e vir, da opção de me mudar pra Portugal, Itália, Alemanha, Grécia, etc. Vejam bem, alguns desses países não estão bem das pernas, mas pra quem tem um business online (ainda não é o meu caso, mas estávamos trabalhando nisso) isso não importa muito; a possibilidade das minhas filhas estudarem em outros países, conhecerem outras culturas, etc, sem ter que passar pela trabalheira de vistos e afins; achar que a UE não funciona direito, mas que é melhor consertar um brinquedo bom que quebrou do que jogar fora e comprar outro - que sabe-se lá quanto tempo vai funcionar até quebrar de novo. No meu antigo emprego, estar a UE era importantíssimo para o negócio e não impedia que negociássemos com outros países. E finalmente, acho que no atual momento do mundo, a gente tem mais é que se unir e colaborar, ao invés de dividir e segregar.
Não vou negar que estar fora da União Européia me causou um certo choque e medo do futuro. Ainda não sabemos a extensão desta decisão e ainda deve levar 2 anos até que tudo seja definido. Em dois anos muita coisa pode mudar (do jeito que vai, podem até cancelar essa coisa toda e mandar a democracia pra casa do cacete e continuar de onde paramos). Do nosso (aqui de casa, total meu umbigo) ponto de vista, ainda não sei o que muda a médio e longo prazo, mas pra ser sincera, acho que não vai ser nada tão preocupante como para muitas outras pessoas.
Estou ofendida e me sentindo rejeitada com essa votação? Sinceramente? Não. Explico. Ao contrário de muitas pessoas, eu nunca me senti 100% bem-vinda. Quando vim pra cá, estava em contato com um grupo do Orkut que supostamente integrava justamente estrangeiros, justamente por ser difícil conhecer gente e fazer amigos. O grupo era liderado por um escocês e meu marido também fazia parte. O grupo era ótimo, mas não vou negar, muitos estavam nele pra achar um/a parceiro/a. E inclusive ouvi que as brasileiras eram as mais fáceis.
Meu primeiro emprego permanente aqui na Inglaterra foi numa empresa americana, dirigida por britânicos, com grande parte da programação dirigida ao povo daqui, etc. Eles gostavam de dizer pelos corredores que a cultura era britânica e que era pra crianças britânicas. Em várias situações, alguns colegas de trabalho faziam questão de dizer que não estavam interessados em conhecer gente nova, que os amigos deles eram os de faculdade e pra que perder tempo conhecendo gente nova? Em uma festa anual da empresa, ao anunciar as pessoas que saíram da empresa naquele ano, o presidente chegou numa brasileira que trocou a nossa empresa pela concorrente, ele mandou um "ah, só podia ser brasileira; brasileiro não gosta de trabalhar, são todos preguiçosos". O cara é inglês, nunca morou no Brasil e a empresa não tem histórico de contratar brasileiros. O RH tirou o microfone do cara e ficou por isso mesmo - nem um pedido de desculpas, nada.
Meu último emprego foi numa empresa britânica, no meu departamento éramos 15 pessoas, 3 estrangeiros: eu do EU, uma do Caribe morando aqui há 30 anos e a estagiária irlandesa. Quando eu saí, fui substituída por outra britânica. O departamento ao qual o meu fazia parte era um departamento international, então a quantidade de estrangeiros era bem maior, aliás, estrangeiros são bem-vindos, 2a, 3a, 4a línguas são necessárias. Mas a quantidade de estrangeiros em cargo de chefia era bem pequena. Coincidência? Xenofobismo? Eu saí porque depois de quatro anos lá não consegui ser promovida, inclusive foi "sugestão" do RH ("quando a gente tenta e não consegue, melhor tentar ir para outro lugar mesmo. Muita gente volta em posição acima, porque só assim pra verem que a pessoa faz falta"). Pessoalmente acho que foi um tiquinho de tudo, adicionado a uma bela dose de incompetência e falta de visão da chefia. Não porque foi comigo não, mas por acontecer em toda a empresa, de deixarem bons funcionários irem e promoverem as pessoas erradas. Não acho que aconteça em todas as empresas, em todos os setores, com todo mundo, foi apenas o que eu vi na minha empresa.
Moro aqui há pouco mais de 10 anos, trabalhei numas 6-7 empresas diferentes, principalmente como temporária, e a minha impressão maior é que Londres é "inclusiva" porque as pessoas estão cagando pra você. Não que elas curtam essa diversidade, essa explosão cultural... não, elas estão ocupadas demais com a própria vida, com os próprios problemas, com que horas o pub fecha, para dar a mínima pra quem vem e quem vai. Ok, isso é bem generalizado. Fiz grandes amigos britânicos, pessoas queridas e interessadas em pessoas, não em pub-buddies, ou relações superficiais no trabalho. Mas como uma people-watcher profissional que me tornei, percebi sim que as pessoas não querem contato. E ainda arrisco que isso é no geral, não só em relação a estrangeiros não.
Quando vim pra cá, viajamos bastante pela Inglaterra e sempre encontrei pessoas muito mais receptivas do que em Londres. Claro, eu era "turista", estava a passeio, não estava morando lá. Então talvez por isso, eles me viam como um alien, alguém pra perguntar coisas, descobrir novas culturas, e depois dar tchau. Então, como disse, essa é a MINHA experiência, de nunca ter sido 100% incluída, de nunca ter visto a Inglaterra como esse lugar multicultural onde todo mundo é aceito. Ao contrário: pra mim, você só é aceito, porque as pessoas não dão a mínima, desde que você não atrapalhe o caminho deles. (Com excessões, claro)
Então nesse sentido do "racismo", o resultado do referendo não me chocou. Todo mundo diz que Londres voltou In, mas de novo, 40% da população votou Out. 40% pessoas. Quarenta.
Muita gente diz que não foi a questão da imigração que fez optarem pelo Out. Muita gente me disse que é legal mudar - se não está bom do jeito que está, tem que mudar, mesmo que a mudança seja o desconhecido. Acho válida a explicação, mas claro que quando é uma mudança que segrega, que separa, que exclui... tem gente que diz que na verdade nada muda no campo da imigração: só teremos imigrantes mais diversos, ou seja, né? Mas só o tempo dirá.
Meu grande medo em relação a tudo isso é quem entra no poder daqui pra frente. Será que é o prenúncio de UKIP no poder? Ou de políticos com mente parecida? É um aviso que Donald Trump vem aí pra completar o coreto? Será que agora vai rolar um monte de maluquinho matando estrangeiros por aí. Meu grande medo é olho-por-olho... muita gente já diz que se a Inglaterra sair, a Europa não vai querer que ela seja bem sucedida, para começar o "eu te disse". Esse sentimento de "você me rejeitou, agora se ferra aí sozinho" não me agrada, porque só gera mais raiva, mais rancor, mais segregações. Esse papo de vamos separar a Escócia, a Irlanda do Norte, Londres... a mesma coisa. Acho que agora é hora de parar pra pensar no que deu errado e tentar consertar.
O que deu errado? Nós vivemos numa bolha e esquecemos de olhar para os lados. Olha a gente fazendo exatamente o que acabei de falar que o ingleses fazem: olham, mas não vêem, não se importam. Como pudemos ignorar 50% da população que não quer essa situação? Como pudemos ignorar os sinais de que a coisa não estava bem? E agora estamos culpando as pessoas "ignorantes e sem instrução", os "working class". Essas pessoas, aos nossos olhos, nem existiam. Para nós, eles estavam tão felizes quanto a gente. Ok, nós = eu, porque eu realmente não sabia que a coisa estava nesse nível. Agora pipocam matérias sobre as pessoas que se arrependeram de ter votado Out, que era uma forma de protesto, que eles acharam que o voto deles não contaria. Olha isso, as pessoas estão com síndrome do filho rejeitado - não conseguem atenção dos pais, então fazem "merda" para ver se assim vai.
Vale um parágrafo pra dizer que sim, o povo não estava preparado para uma decisão dessas. Muita gente votando sem nem saber o porque, ou por causa de falsas promessas (£350 milhões por semana voltando pros nossos bolsos, sendo que esse número nem existe), muita gente nem votando - quase 30% da população. O governo fez uma bela cagada ao deixar essa decisão na mão do povo britânico. Era obrigação deles, e eles escolheram jogar o peso da decisão na mão do povo (um povo que claramente o governo não conhece).
Sim, tenho medo pelo futuro das minhas filhas, vai vou falar que eu já tinha medo antes. Medo da violência extremista, medo da violência contra mulheres, medo de crises financeiras que já passaram por aqui, medo delas serem infelizes, medo delas terem mente pequena e serem cheias de preconceitos, medo delas sofrerem bullying, medo delas se tornarem bullies. Mas não estou apavorada. Ainda não, não até saber a extensão do problema, não porque ainda tenho vontade de fazer funcionar, ainda tenho forças para brigar. A gente tem que aprender com os erros e não ficarmos acuados e viver numa bolha. Aliás, está na hora de estourar essa bolha e tentar entender o mundo ao redor. E não deixar o medo tomar conta, porque é isso que eles querem!
ótimo argumento no seu blog sobre o Brexit. O que tem deixado muitas pessoas ansiosas são as incertezas. Meu marido é escocês e desde quinta passada o coitado tem mais do que nunca acompanhado as notícias por aí. Aqui nos EUA as coisas não estão bem por conta da ameaça do Trump. Pra muitos ele é uma piada, mas não pra maioria. E pra quem achava que IN ia ganhar fácil, começa a pensar na cagada que os americanos podem fazer consumidos por medo e vontade de mudar, sem pensar muito nas consequências.
ReplyDeleteMeu marido diz a mesma coisa. O culpado disso tudo foi do Cameron que deu poder para o povo escolher. O governo foi eleito para o povo para tomar este tipo de decisão. Ele quis dar um de democrático, mas acho que não mediu as consequências, eu não sei pq ele tomou esta decisão, mas enfim... agora só aguardar e esperar pra ver o que vai acontecer!