Monday, March 14, 2016

E a babá, né?

Tenho acompanhado os protestos no Brasil via Facebook, um pouco chocada com certas opiniões, um pouco orgulhosa de outras, em cima do muro em alguns casos.

Coisas que me chocam são opiniões dadas a deus dará, sem nenhuma reflexão antes de apertar o enviar. "Pobre sabe que depende da elite pra sobreviver, tem mais é que agradecer", "só quem não protestou é petista", "só quem protestou é coxinha, Tucanalha, eleitor do Aécio", "o Brasil está de saco cheio do PT". Nem sei porque essas coisas me chocam, porque desde que o mundo é mundo, o homem sempre foi um ser egoísta, egocêntrico e dono da verdade. Eu, tu, eles, todos nós sabemos o que é melhor pro mundo, desde que o mundo seja o nosso umbigo. Mas eu me choco sim, porque sei que tem muita gente boa, honesta e bacana nesse mundo, e infelizmente essas pessoas se pronunciam pouco ou, felizmente, estão ocupadas fazendo algo que preste na vida, ao invés de vomitar bizarrices nas redes sociais.

Antes de mais nada, não sou da direita. Não voto no Aécio por vontade própria. Acho loucura um país que clama por mudanças acabar com Dilma e Aécio no 2o turno, porque de mudança aí, não tem nada. É mais do mesmo. Não sou PSDB, mas também não vou ignorar coisas positivas que aconteceram em governos passados. Nem coisas negativas.

Também não sou de esquerda. Não sou Petista. Quando o Lula ganhou as eleições, depois de não sei quantas derrotas, não vou mentir, achei legal, achei que mudanças positivas poderiam sim acontecer (e aconteceram), mas não votei nele, nem na Dilma. Acho muito justo - e necessário - que o governo olhe pelo seu povo, independentemente de classe social, mas cuidando dos mais vulneráveis e necessitados. Acho justo medidas de emergências tapa-buraco com a peneira, até que uma solução para o problema seja implementada. Bolsa-gás/luz/escola - medidas emergenciais, tapa-buraco. Melhorar educação, saúde, emprego, para que o povo possa andar com as próprias pernas e não precisar de mais bolsa-qualquer coisa: solução do problema. Óbvio que nem PT, nem PSDB, nem partido nenhum vai mudar nada de uma noite pro dia, mas aqui de longe, parece que muito pouco está sendo feito.

O que me dói é ficar nessa punheta PT-PSDB eternamente, sem que nenhum candidato decente apareça, sem que nenhum partido realmente queira melhorar o Brasil de verdade. Todo mundo pensa primeiro no seu. Qualquer político que tome posse já estará tão de rabo preso com todo mundo o que o ajudou a ser eleito, que seu mandato já estará comprometido. Sei que as passeatas pelo Brasil viraram guerra de classes, luta entre partidos, mas, na minha santa ingenuidade, gosto muito de pensar que são 200 milhões de brasileiros e que uma boa parcela da população realmente quer acabar com a corrupção, de todos os lados, quer um país mais seguro, mais "educado", mais saudável, mais rico (riqueza melhor distribuída, porque pobre com dinheiro gasta mais e é se gastando que a máquina do capitalismo continua funcionando, mas pobre com dinheiro não é mais pobre, né?), mais solidário.

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E a babá, como fica? Gente, que bafafá deu essa história da babá. A curto prazo, minha opinião resumidamente é a seguinte:

1. Babá é uma profissão como qualquer outra. Aqui no "estrangeiro", porém, é uma função muito da bem remunerada, por isso nem todo mundo pode ter uma. Babás aqui, em vários casos, tem até treinamento e alguns cursos, inclusive de primeiros socorros, e checa-se antecedentes criminais. Babá não é apenas para limpar a bunda da criança, é uma pessoa que ler histórias, brincar, cantar, levar no parque, etc. Enquanto os pais estão se matando de trabalhar para pagar mil contas - inclusive a babá - e para ter uma carreira profissional, a babá os ajuda na "criação" dos filhos. Criação entre aspas, porque quem cria são os pais (ou deveriam), mas a babá é aquela aliada que vai impor as "regras" dos pais e da sociedade: comer bem, não ficar na frente da TV, respeitar os amiguinhos, aprender a dividir, ensinar fundamentos básicos para preparar para escola, etc. Claro que em alguns casos, babá aqui é apenas alguém que vai limpar a bunda da criança e deixá-la na frente da TV. Existem bons e maus funcionários em qualquer profissão.

2. Uniforme é sempre algo polêmico, por motivos históricos. Mas eu, de novo na minha santa ingenuidade, gosto de pensar que certas coisas evoluem para o bem. Sou contra forçar a usar uniforme em certas profissões, como babá, uma coisa tão assim... "informal". Uniforme de que empresa mesmo? Tem logomarca? Nem médico hoje em dia usa uniforme, a menos que seja em hospital. Mas uniforme tem seu lado positivo (para toda e qualquer profissão): economiza-se em roupas (eu sempre quis usar uniforme; tipo ter 5 roupinhas coringa e tudo certo); em profissões que corre-se o risco de sujar e manchar a roupa, você não estraga suas roupas bacanas; você consegue saber exatamente quem trabalha onde (pensa nas companhias aéreas, você lá querendo falar com um funcionário e tudo mundo vestido de... pessoas normais). De novo: ou você é uma grande corporação onde TODOS, do chefe à copeira, usam uniforme, ou é opcional. Nunca entendi o uso de uniforme branco em babá - primeiro a obrigatoriedade; li alguns comentários que é pra mostrar que as babás não são as mães das crianças. Segundo a cor: branco suja pacas; é esperado que babá troque de roupa toda vez que o uniforme sujar?

3. Babás nos finais de semana. Rá, outro tema polêmico. Hoje em dia não trabalho mais fora, mas até duas semanas atrás, eu ralava de segunda a sexta, das 7 da manhã às 6 da noite, quando começava o segundo turno de dar jantar, dar banho, contar história, botar pra dormir, arrumar cozinha, arrumar brinquedos e capota. E nunca tive babá de final de semana, porque meus finais de semana eram pra minha família. Carregar no colo é prazer, não sacrifício. Mas não vou negar, não. A gente deixou as meninas uma vez ou outra com a cuidadora num sábado ou num domingo pra podermos ir ao cinema, ou almoçar fora, ou... respirar. Uma vez ou outra. Desculpa, mas eu não entendo quem tem babás todos os finais de semana pra empurrar carrinho na praia. E não adianta dizer que é porque eles estão fazendo um favor pra sociedade dando emprego, porque o governo não faz o trabalho deles, etc. Porque essas pessoas ainda assim contratariam babás para empurrar carrinho na praia. Tento não julgar, porque cada um com seu cada um, e principalmente uma foto (sim, estou falando da foto que tá circulando por aí) nem sempre é o que parece. Então, não, não estou julgando aquele casal em particular. E não estou julgando que tem babá tempo integral durante a semana e nem quem precisa dos serviços durante um ou outro final de semana. Muito menos quem trabalha a semana inteira e ainda tem que pegar trabalho no final de semana pra complementar renda (talvez o caso de muitas pessoas no Brasil). Minha crítica maior é a quem simplesmente escolhe o lado mais fácil porque acha que ter filho é simplesmente pagar escola, curso, dar brinquedo, por comida na mesa. E sim, existem pessoas assim. Por outro lado, não tenho conhecimento suficiente pra dizer que é o caso da maioria das pessoas de classe média alta no Brasil, como as pessoas rotularam por aí. Não vou nem entrar no mérito dos salários, dos direitos, etc, porque eu sei que a lei mudou, mas não faço idéia de quanto uma babá receba no Brasil. (P.S.: não é inveja, eu não tenho babá e nem quero ter; não tenho au pair e nem quero ter. Meus finais de semana são da minha família e todo o trabalho que tem com isso - cozinhar, educar, brincar, dar bronca, levar no parque, limpar bunda, dar banho).

A longo prazo, minha opinião nem dá pra expressar num post de blog só. É muita coisa errada, muita coisa que tem que mudar, muita coisa tem que ser ajustada, mas principalmente, é a mentalidade de um povo - independente de classe social, profissão, etc - que precisa ser mudada, e isso, infelizmente, parece tão difícil de acontecer. Falta vontade e falta claridade... tanta gente se acha perfeito e certo nas suas opiniões. Tanta gente que sabe que não é perfeito, mas que também não vai mudar e pronto. Tanta gente que nem consciência de algum problema tem.

Gente, sou brasileira, nasci e fui criada no Brasil, minha mãe teve babá e empregada, que dormiam em casa! Essa era minha realidade lá até a gente ficar um pouco mais crescidinho. E minha mãe não fazia isso porque ela era altruísta e queria ajudar as pessoas que não tinham emprego, não (apesar dela ajudar sim), era porque ela queria focar no trabalho, era porque ela não queria fazer as tarefas domésticas depois de passar o dia ralando feito uma corna no trabalho, era porque meu pai não ajudava em nada em casa e tudo caía em cima dela (e das empregadas), era porque era o normal. A moça que trabalhava lá em casa foi pra lá quando tinha 17 anos, subnutrida. Eu tinha 1. A mãe dela tinha um bando de filhos e estava desesperada para as filhas irem para a casa de pessoas que queriam babás e empregadas tempo integral para que elas pudessem ter uma casa melhor, comida, roupas, etc. Ir pra casa da minha mãe foi tapar o sol com a peneira, já que a solução mesmo seria evitar que esta situação acontecesse. Uma moça que trabalhou na casa da minha mãe morava lá com o filho - minha mãe pagava a mesma escola particular pra ele que pagava pra gente. Ela tinha casa durante a semana, um salário (não sei quanto, não sei se era justo ou não), comida, escola pro filho que era da minha idade, e ela estava lá porque era a melhor oportunidade pra ela na época. Apesar de ser uma situação boa no Brasil, não seria melhor que essa moça tive tido a oportunidade de escolher a profissão que quisesse, ganhasse o salário dela e escolhesse como gastar? Por que isso tem que ser privilégio de classe média/classe média alta e pobre tem que aceitar as condições que a vida lhes deu?

Como escrevi ali em cima, isso não dá pra discutir em um post só. E não é assunto exclusivo do caso da babás no Brasil. E não é nem só uma questão de "Brasil" ou país pobre. Dá pra ficar analisando tudo e todos, o que funciona aqui na Inglaterra e o que não funciona, e por aí vai.

Não existe lugar perfeito, todos os problemas do mundo estão relacionados de alguma forma (pobreza, diferença de classes, corrupção, machismo, violência, aquecimento global, super população, o pum da vaca...); temos muitas coisas para consertar, muitas agendas diferentes, interesses diferentes para trabalhar, mas uma coisa é certa: com tanto ódio no coração das pessoas, a gente não vai a lugar nenhum. É tanto xingamento, tanta grosseria, tanta intolerância que vejo na minha timeline do Facebook, que me faz perder a esperança em construir um mundo melhor para meus netos.