As vesperas de chegar aos 3.5, mil coisas passam pela minha cabeca. Comecando por uns 5 fios de cabelo branco que nao estavam ali (mas foram devidamente arrancados).
To em crise nao, pelo menos ainda nao. A ficha nao caiu. Nao faz nenhuma diferenca entre agora e a virada dos 30. Nao me sinto nem melhor nem pior. Eu ja estava acima do peso, ja me sentia cansada, ja estava depre (sem saber).
Ok, vamos esclarecer o nem melhor nem pior, porque senao eu logo logo apanho por nao estar considerando "marido" e "filha" na equacao. Obvio que hoje estou melhor nesse sentido. To com a vida ganha nesse sentido.
Mas posso ser grosseiramente sincera? Marido (amor, companhia) e filho (amor maior do mundo, felicidade) sao as coisas mais importantes da minha vida, mas nao sao as unicas. Eu nao sou o tipo de pessoa que tem um marido maravilhoso, uma filha linda, saudavel e feliz e pronto, acabou, nao preciso de mais nada, vou sentar ali, ver a vida passar com um sorriso na cara.
Tambem nao estou reclamando, oh ceus, oh vida, oh azar.
Na minha cabeca, nos meus planos de vida, no caminho que tracei e continuo tracando, marido e filho sao uma parte "natural" da minha evolucao.
Sabe o "nasce, cresce, reproduz, morre"? Entao. Eh natural, tinha que ser. E obvio que meu marido seria um homem maravilhoso, porque senao nao estaria comigo. E obvio que minha filha eh uma dadiva divina, porque foi feita com muito amor. E eh muito amada e bem cuidada.
Mas fora o nasce-cresce-reproduz-morre, o ser humano tem outras coisas a fazer tambem. Cada um tem suas prioridades, desejos, necessidades.
Munha analise dos 3.5 eh:
* fiz bastante coisa. Varias delas por merito proprio, por ter foco, por nao desistir. Algumas delas gracas a um pouco de sorte, a certas pessoas presentes (ou ausentes) na minha vida.
* nao fiz muita coisa que poderia e queria ter feito. As que nao aconteceram por motivos "externos" (ex.: falta de grana, problema de timing) eu fiz minhas pazes, aceito, deixo na lista do "um dia quem sabe". As que nao fiz por culpa minha sao as que me dao dor no estomago. Nao fazer por preguica, nao fazer porque o foco nao estava la, porque deixei pra depois e perdi a oportunidade... Isso me corroi, me deixa maluca.
* cheguei aos 3.5 obesa. E se antes fazer dieta era mais dificil e doloroso do que a ideia de estar obesa, aos 3.5 isso TEM que mudar.
* cheguei aos 3.5 tomando remedio de depressao e nao podendo parar. E em relacao a isso, nada tenho a dizer.
* cheguei aos 3.5 mais paciente e (aham) "sabia". Mais madura (nao mais velha). Menos impulsiva. Mais coerente. Mas tambem mais "brigona".
* meus 3.5 trouxeram mais responsabilidades. Nao soh uma filha pra criar, mas uma carreira pra pensar, uma casa pra pagar, um carro pra dirigir sem atropelar pessoas, diferencas culturais a respeitar, mudancas de prioridades.
* estou mais bicho-do-mato. Me satisfaco com menos.
* estou menos vaidosa. Nem espelho eu tenho.
* nao tenho mais tantos planos quanto tinha antes dos 30, nao me cobro tantos resultados quanto antes. Em compensacao, cada conquista tem um valor muito maior. Se antes era um "check" na minha "to do list", hoje em dia eh um grande acontecido, digno de comemoracao.
* minha relacao de amizade mudou. E esta bem confusa. E essa parte me deixa as vezes triste. Quando se mora fora, a gente nao tem tempo de cultivar amizades. As amizades sao relampago, tem que rolar um amor a primeira vista, em uma semana vira melhor amigo. A partir dai a amizade vira intensa, corrida. Nao se pode perder tempo porque quando se menos espera, puff, o amigo partiu para uma outra aventura, um outro pais, voltou pra casa. No comeco eh dificil se adaptar a esse esquema, mas acostuma-se. A gente aprende a sugar os amigos, curtir a amizade com prazo de validade, e no final das contas a gente acaba tendo contato em outro pais. Hoje em dia o que considerava colega antes eh amigo. O que eu considerava amigo antes virou amigo-familia. E os amigos-familia de antes estao enraizados na alma.
* minha relacao com trabalho tambem mudou. Continuo workaholic. Continuo amando meu trabalho. Mas nao to nem aih se perder o emprego. Muitas vezes torco por isso. Nesse caso, ajuda ter marido com um bom emprego. Sim, meu salario faria falta, mas nao passariamos necessidades. Por aqui tambem a relacao empregado-empregador eh menos carrasca do que no Brasil. Nao estou dizendo que nao acontecem injusticas, que nao rolam redundancias, que nao existe desemprego, mas nao tem aquela coisa de se matar de trabalhar pra manter o emprego, de ter constante ameacas de ser substituido por um estagiario. Mas ainda tenho crises existenciais aos 3.5. Quero uma carreira? Quero mais tempo pra familia (nesse caso, infelizmente na minha area, mais tempo com a familia significa mudar de ramo). Ainda preciso me encontrar nessa area.
Enfim, muitas coisas pra pensar, decidir, fazer, resolver. Mas hoje em dia o tempo nao esta mais a meu favor. Se aos 15 eu tinha a vida inteira pela frente, hoje em dia pelo metade. Sim, metade. Nao que eu va morrer aos 7.0, mas nessa idade nao quero ter que resolver ou decidir nada. Quero curtir minha aposentadoria e ter a mente tranquila de quem curtiu muito a vida e fez muitas coisas legais, conquistou vitorias e nao se importa com o que nao deu pra fazer.